Irmã Maria dos Anjos na mira do DOPS/MG


No dia 13 de agosto de 1970, o prefeito de Congonhas, José Theodório da Cunha (Zezete), foi injustamente cassado por supostas irregularidades na venda ilegal de bens, prestação de contas sem comprovantes e negócios fraudulentos. Isso mesmo, injustamente, pois o mesmo seria absolvido pelo Tribunal de Alçada de Minas Gerais em 29 de abril de 1976. [1]

Zezete seria inocentado ainda pela Subcomissão Geral de Investigações de Minas Gerais (SubCGI/MG), órgão subordinado ao Ministério da Justiça, que arquivou todos os processos contra ele em 23 de novembro de 1976. [2]

Após a cassação, a cidade enfrentou momentos difíceis, um período que, infelizmente, não foi ainda pesquisado dignamente. Os estudantes que recebiam bolsas de estudos da prefeitura, por exemplo, há meses não recebiam o benefício, pois um dos motivos para a investigação contra o político foi a respeito desse benefício, o que causou grandes problemas.

Preocupada com a situação, a diretora do Colégio Nossa Senhora da Piedade, Irmã Maria dos Anjos, começou a procurar diversas maneiras de resolver o problema. No dia da cassação do prefeito, bem logo após a decisão da Câmara, a religiosa escreveu uma mensagem aos pais dos alunos bolsistas solicitando o pagamento das prestações atrasadas, pois sabia que não era de interesse dos políticos acusadores resolver a situação dos alunos.

Sem demora, a conduta da Freira foi denunciada ao Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais (DOPS-MG), o temido órgão de investigação governamental, potencializado pelo Regime Civil-Militar (1964/1985). No documento, o delator afirmou que, entre os dias 18 e 20 de agosto de 1970, haveria uma grande manifestação de estudantes, professores e moradores. O propósito dos participantes, segundo ele, consistia em marchar “até a residência dos vereadores e do advogado CARLOS ALBERTO ARGES, em protesto contra a suspensão do pagamento das bolsas de estudo”.

No documento carimbado como “CONFIDENCIAL”, o delator, adversário declarado do ex-prefeito Zezete, disse: “Elementos agitadores, caso se realize a passeata, poderão aproveitar-se e utilizá-la como desagravo à cassação do mandato do prefeito Sr. José Theodório da Cunha”.

Por fim, por razões desconhecidas, não aconteceu nenhuma manifestação. No dia 24 de agosto, quando o processo foi arquivado, somente uma observação na capa: “Nada ocorreu. A cidade permanece calma e sob controle”[3]

Pois bem, prezado leitor, você tinha conhecimento dessa história tão importante de Congonhas? Não é verdade? Então, por gentileza, me fale se gostou dela. Se sim, bora lá compartilhar e levar um pouquinho da nossa história para todo mundo!

Por Paulo Henrique de Lima Pereira

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais - IHGMG
Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas - ACLAC
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette - ACLCL
Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas - IHGC



REFERÊNCIAS:
[1] Diário da Justiça, 19 de maio de 1976.

[2] MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: Subcomissão de Investigações no Estado de Minas Gerais (SubCGI/MG). Processo: Nº 36/69. Relatório Nº 46, p. 263.

[3] ARQUIVO NACIONAL. Fundo: Informante Secreto do Regime Militar. Pasta 4573 (Assunto: Possível realização de passeata em Congonhas-MG. Origem: Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais (DOPS/MG). Classificação: B-3. Difusão: ABR/SNI – DPF/DR/MG – DOPS/MG – Arquivo. Data: 18/08/1970.

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