Primórdios do ciclismo em Conselheiro Lafaiete e Congonhas
A
primeira prova disputada em uma pista oficial ocorreu no Velódromo
Rio-Grandense, em 1898. No mesmo ano, a famosa marca Caloi inaugurou as suas
instalações em São Paulo, tornando-se a primeira fábrica de bicicletas do
Brasil, o que contribuiu significativamente para a disseminação do ciclismo no
país. Em 1904, Antônio Prado Junior foi o primeiro brasileiro a participar de uma
competição internacional.
Em
Queluz de Minas, hoje Conselheiro Lafaiete, as primeiras bicicletas surgiram no
início do século XX. Em 1913, no seu artigo “Chroniqueta”, o colunista Jota descreveu
uma situação vivida na Praça Barão de Queluz, o que atesta a nossa afirmação. No
jornal Correio da Semana, ele relatou:
Despertado,
finalmente, deste estado de soporífico. Despertado por uma bicicleta que me passou sobre os pés, carregada com dois homens
(imaginem... dois homens!) vi que estava sobre um passeio igualzinho aos das cidades
bonitas. Observei ainda o Parque, todo florido sorrindo alegremente; as
calçadas, em diversos pontos desordenadas; os passeios deslizados pela rua
afora, interrompidos aqui e acolá; enfim, acordei, por assim dizer, sobressaltado
pela bicicleta que não satisfeita como
amaçar-me os calos, ainda tocou uma buzina desafinada aos meus ouvidos, o que
mais assustou-me!
Mas voltada a calma, embora sentindo o efeito da pressão do peso dos dois que cavalgavam a bicicleta, vi que tudo mais era efeito de um ligeiro entorpecimento cerebral, efeito talvez do desprendimento rápido do meu espírito que, aproveitando o momento aliás oportuno, fosse dar uma volta pelas regiões etéreas.[1]
Em
1924, onze anos depois, outro registro importante. Por meio de legislação própria,
a Câmara Municipal passou a cobrar imposto dos locadores de “bycicletas ou
motocycletas” no município de Queluz e seus distritos.[2]
Embora
os primeiros registros da existência dos veículos de duas rodas impulsionado
com pedais na cidade sejam de 1913 a 1924, não encontramos nenhum registro de competições realizadas nesse período.
A
primeira competição de bicicletas na região aconteceu no dia 3 de junho de 1928.
Denominado “prova de resistência”, a primeira prova ciclística aconteceu entre
o percurso de Conselheiro Lafaiete e Congonhas. O ciclista Luiz Garcia Lopes[3],
organizador do evento, era proprietário da loja “Íris: Fábrica de Malas e
Valises”, o único estabelecimento autorizado a comercializar as “afamadas e
mundialmente conhecidas marcas de motocycletas e bicycletas Bianchi, Peugeot e
Davy”. Localizada no então bairro Lafayette, hoje São Sebastião, a loja vendia diversos
itens como canastras, sacos para roupas, pastas e carteiras de couro, sortimento
completo de artigos par montaria, capas, capotas, barracas e mochilas.
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Jornal Correio da Semana (1928) |
De
Conselheiro Lafaiete a Congonhas, somando a ida e a volta, os ciclistas
percorrem 49 quilômetros em 5 horas. Durante a ida, enfrentaram uma forte
ventania, acompanhada de abundante chuva, desde Gagé até Congonhas. No trecho entre
Joaquim Murtinho e Congonhas, devido ao estado precário do caminho, houve
necessidade de carregarem as bicicletas durante 3 quilômetros. Sobre a
histórica competição ciclística, o jornal Correio da Semana comentou: “Mesmo
com todos esses contratempos, ao voltarem, verificamos encontrarem-se todos em
boa disposição, não demonstrando fadiga. Dentre todas as máquinas somente uma
Lúcifer careceu de reparos para voltar”[5].
Dessa
forma, encerrou-se a primeira prova de ciclismo entre Congonhas e Lafaiete. Uma
importante efeméride da nossa história, que, infelizmente, é ignorada por
muitos concidadãos.
Paulo Henrique de
Lima Pereira
Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), da Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas (ACLAC), do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC), e correspondente Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette (ACLCL).
[1]
Correio da Semana, 10 de agosto de
1913, p. 1.
[2]
CÂMARA MUNICIPAL DE QUELUZ DE MINAS – Lei 334, 2 de outubro de 1924. In: Correio da Semana, 23 de outubro de
1924, p. 5.
[3]
Luiz era filho de Miguel Garcia e Isabel Garcia.
[4]
O ex-vereador, engenheiro elétrico e jornalista Antônio Manso Filho, um dos pioneiros
da implantação da energia elétrica em Congonhas, era tio da saudosa escritora, professora,
advogada e poetisa Neusi Maria Manso, membro efetivo do Instituto Histórico de
Congonhas (IHGC).
[5]
Correio da Semana, 5 de junho de 1928.
Em Congonhas, após a chegada dos dois primos. Alcindo Moreira da Silva (português) e Aurélio Moreira da Silva em CONGONHAS o ciclismo ganhou proeminência. Alcindo Moreira era expert em conserto de bicicletas...Promovia embates..
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