Em algum momento da história, a construção de um aeroporto em Congonhas foi planejada?

 



Em São Paulo, sabemos, existe o Aeroporto de Congonhas. No entanto, por aqui, ainda não. O curioso é que, ao longo da história, o assunto tratado pelo poder pública. Assim sendo, vamos conhecer um pouco mais da nossa história?


Pois bem, em 1957, em seu primeiro mandato, o prefeito José Theodório da Cunha, o Zezete, manifestou o desejo de construir um campo de pouso de aviões em Congonhas. Para isso, comprou da reitoria do Santuário do Bom Jesus, por 50 mil cruzeiros, um terreno de 72 mil metros quadrados, localizado no local denominado Vira Boi.


Porém, o prefeito teve pouco tempo para executar o projeto. Em seu segundo mandato, eleito com o binômio minério-turismo, Zezete continuou seus planos desenvolvimentistas. Em 1968, anunciou a construção da “Pousada dos Profetas”, na Romaria, então desativada. Sob a responsabilidade do empresário Hugo Rossi, a construção do hotel contava com a assessoria de Expedito Perdigão. Segundo O Globo, “a obra lendária das Romarias, construídas pelo bispo dom João Muniz, não será destruída”. Em seu discurso, padre Marcos Guabiroba assegurou que “a prefeitura já havia providenciado sua construção noutro local, com melhores condições e mais conforto para todos os romeiros pobres que afluem à cidade durante o jubileu anual”[1].


Em seguida, Zezete desapropriou o terreno onde está a Cachoeira de Santo Antônio com o objetivo de construir um parque, um plano idealizado em 1958, durante seu primeiro mandato. O assunto foi comentado nos principais veículos de comunicação do país.

O jornal O Globo, por exemplo, anunciou que o prefeito construiria, ao redor da cachoeira, um “parque de Recreações e Turismo, semelhante aos de Teresópolis e Friburgo. As cinco quedas d’água poderão produzir lagos artificiais, que, juntamente com os balneários, restaurantes, campos de jogos e clubes de pesca, atrairão, dentro em breve, um número muito maior de turistas do que o registrado atualmente em Congonhas”[2]O empreendimento não foi iniciado, sendo posteriormente construído pelo prefeito Gualter Monteiro em 1984.

Em 14 de fevereiro de 1969, o prefeito Zezete enviou uma carta para a Diretoria de Engenharia Aeronáutica, fundamentando o “desejo da população em dotar a cidade de um campo de pouso”. Em sua justificativa, ele afirmou que as principais cidades turísticas de Minas, localizadas nos arredores do município, “não dispõem de campos de pouso, exceto Belo Horizonte onde se localiza o Aeroporto da Pampulha”. Em seguida, justificou a importância da construção em Congonhas. Dentre elas, destacou:


A) Situa-se Congonhas na zona central do turismo histórico de Minas, distando por vias asfaltadas, 80 km de Belo Horizonte, 115 de Ouro preto, 100 de Barbacena, 110 de São João Del Rey, sendo que estas cidades não dispõem de campos de pouso, exceto BH onde se localiza o aeroporto da Pampulha.

B) Mais de 1.000 pessoas visitam Congonhas diariamente, para admirar as obras de Aleijadinho, e em nossas festas religiosas durante as solenidades da Semana Santa e do Jubileu, o número de visitantes atinge a 20.000 diários; e não poderíamos deixar de citar o fenômeno Zé Arigó procurado e visitado por viajantes de todas as partes do Mundo”

C) Dispomos de duas áreas planas de terras com eixos de 2.500 metros aproximadamente, praticamente sem movimento de terra a ser feito e apesar de ser a nossa região montanhosa, essas áreas estão livres de obstrução em seus horizontes.

D) Esse campo de pouso, se construído, constituir-se-ia em alternativa para aterrisagem nos eventuais impedimentos da Pampulha.[3]


No dia 5 de maio, o Major-brigadeiro Henrique de Castro Neves informou que, após o parecer do Comando da 3ª Zona Aérea, o pedido do município seria avaliado pelo Estado Maior da Aeronáutica, uma vez que a construção de um aeroporto em Congonhas não estava prevista no Plano Nacional de Viação.


Em abril, diante da demora, Zezete enviou outra correspondência sinalizando receio de que o seu ofício tivesse sido “extraviado”.[4] Meses depois, o brigadeiro José Tavares Bordeaux Rego, Comandante da 3ª Zona Aérea, informou que, devido a não inclusão do município no Plano Nacional de Viação, não havia verba disponível.[5]


Diante da negativa, o prefeito resolveu elaborar todos os projetos necessários, com o objetivo de solicitar novamente a construção do empreendimento em Congonhas, o que foi aprovado pelo Ministério da Aeronáutica. O processo ficou pronto, mas, infelizmente, não foi concluído, pois Zezete foi cassado em 13 de agosto de 1970, protagonizando um dos episódios mais tristes da nossa história, uma vez que o ato foi motivado por inveja e vingança política, tendo sido ele, posteriormente, absolvido pelo Tribunal de Alçada de Minas Gerais, hoje Tribunal de Justiça de Minas Gerais.


Em 1973, no governo do prefeito Waldir Cunha, o Ministério da Aeronáutica solicitou os projetos elaborados pelo município, mas eles desapareceram misteriosamente do Arquivo Administrativo da Prefeitura. O mandatário chegou a enviar, em seu nome, o engenheiro Otto Ferdinand Oskar Bohlmann ao Ministério para resolver o problema, mas não foi atendido.


Em 2023, 53 anos após o episódio, o prefeito Cláudio Antônio de Souza (Dinho), iniciou as negociações com a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) para a construção de um aeroporto em Congonhas.


Em novembro de 2023, após encontros com a equipe técnica, o prefeito Dinho reuniu-se com o presidente Rogério Barzellay. A nota divulgada nas redes sociais da companhia, hoje vinculada ao Ministério dos Portos e Aeroportos, disse que foi uma “reunião promissora”. E prosseguiu: “Isso significa que a cidade mineira de Congonhas poderá contar com nossa experiência cinquentenária e soluções customizadas para a aviação regional”[6].


Por enquanto, ações como a desapropriação do terreno para a construção e os estudos já foram realizados, prosseguindo, ainda, os procedimentos burocráticos para a conclusão. Gostando ou não do prefeito, o processo caminha conforme a personalidade dele, ou seja, de maneira tranquila, discreta e responsável.


Paulo Henrique de Lima Pereira

Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG)



[1] O Globo, 25 de outubro de 1968.

[2] O Globo, 26 de outubro de 1968.

[3] CUNHA, José Theodório da. [Ofício]. Destinatário: Diretor de Engenharia da Aeronáurica. Congonhas, 14 de fevereiro de 1969.

[4] CUNHA, José Theodório da. [Ofício]. Destinatário: Diretor de Engenharia da Aeronáurica. Congonhas, 9 de abril de 1969.

[5] REGO, José Tavares Bordeaux. [Ofício]. Destinatário: José Theodório da Cunha. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1969.

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